Fãs de Elvis na Paraíba e o Fã-Clube Almost Elvis JP
Tradicionalmente, a cidade de João Pessoa sempre apresentou um número significativo de fãs de Elvis, além de admiradores e simpatizantes anônimos. De fato, os fãs mais antigos sabem da grande popularidade que ele possuía nesta capital, principalmente nas décadas de sessenta, setenta e início dos anos oitenta. O repertório de Elvis era mandatório nas principais rádios de João Pessoa. As bancas estavam sempre repletas de revistas, pôsteres e livretos. Ao passarmos pelo centro da cidade, ouvíamos, aqui e acolá, um disco de Elvis sendo reproduzido. Se pudéssemos retroceder àqueles anos de ouro, seguramente veríamos vários lançamentos de Elvis em exposição na avenida General Osório e nos seus arredores, principalmente na eletropeças, loja que era referência do mercado fonográfico. Nestes locais, clientes, vendedores e curiosos se reuniam à beira do balcão para ouvir os discos e fazer comentários dos mais variados. Alguns eram verdadeiros, outros, totalmente fantasiosos, frutos do imaginário popular. Em resumo, pode-se dizer que Elvis viva literalmente "na boca do povo".
Apesar da pouca idade, acompanhei estes últimos anos de Elvis e a forte comoção que sua morte produziu nos anos subsequentes. Mesmo com grande número de admiradores, João Pessoa não dispunha, naquela época, de uma agremiação que reunisse os fãs da cidade. Existiam pequenos núcleos dispersos, mas que não faziam publicidade, tampouco promoviam eventos. Talvez, pelo fato de Elvis ainda estar vivo e ativo, havia a sensação natural de que os próprios meios de comunicação fariam essa divulgação. Ademais, nessa época, a mídia tinha recursos mais limitados que os de hoje, pois não existiam as facilidades da internet. Em João Pessoa, dispúnhamos, exclusivamente, da radiofonia e dos jornais que publicavam alguma nota vez ou outra. Até a década de 80, as grandes redes de televisão não possuíam afiliadas na Paraíba. Portanto, a programação televisiva era simplesmente uma repetição daquela gerada no sul do país. Some-se a tudo isto, a acomodação e o excesso de privacidade de alguns fãs. Testemunhei, inúmeras vezes, fãs que propositalmente se afastavam dos demais, temerosos de expor o material raro que possuíam, seja por zelo demasiado, ciúmes ou puro egoísmo.
Passaram-se muitos anos até que surgisse um fã-clube em João Pessoa, cuja presidência era ocupada por Maria Magnólia e o seu esposo. Tratava-se do Elvis Corporation Fã-Clube, fundado em meados de 1990. Provavelmente, foi a primeira iniciativa de fazer reuniões e promover a discografia de Elvis nas rádios da cidade. Muitas vezes, as reuniões eram realizadas no bairro de Tambaú, onde Magnólia residia. Tive a oportunidade de comparecer a alguns destes encontros, participando de dois programas de rádio, sendo um na cidade de João Pessoa e outro em Santa Rita, município próximo. Nesta época, Magnólia já dispunha de muitos títulos raros, sendo a maioria em formato de vinil. Alguns já estavam fora de catálogo no Brasil, sendo desconhecidos de boa parte dos fãs. Este fã-clube pioneiro foi construído com o esforço pessoal e heroico da sua presidente que teve o privilégio de conhecer Graceland, a mansão de Elvis na cidade Memphis. Porém, até onde sabemos, o fã-clube de Magnólia foi sendo desativado anos depois. Fomos informados, através de terceiros, que ela mudou-se para cidade de Caruaru, sendo esta, provavelmente, a razão da extinção.
Os fãs de João Pessoa continuaram dispersos e sem referências locais até 2008, ano em que o fã-clube Almost Elvis JP fora fundado. A sua criação foi o resultado da coragem e persistência de José Monteiro, ou simplesmente Elvis Monteiro, o seu nome artístico. Monteiro é paraibano, jovem, nascido em João Pessoa e faz parte da nova geração de fãs. Começou a despertar o seu interesse por Elvis ainda criança, por influência dos seus pais que gostavam bastante de música, inclusive de Elvis. Coincidentemente, Monteiro nasceu no dia 16 de agosto, data do falecimento de Elvis. Porém, ele nascera quase 10 anos após o desaparecimento do rei. Mas, isto não o impediu de se tornar um dos maiores especialistas na biografia e discografia de Elvis.
Conheci Elvis Monteiro através de Oliver Meira, empresário do mercado fonográfico de João Pessoa, no início de 2010. Monteiro já era cliente regular de Oliver e soube, através do mesmo, que eu também era fã e colecionador desde muitos anos. Nosso primeiro encontro foi exatamente na Oliver Disc, loja localizada próximo à praia, especializada em títulos raros e importados. Foi um encontro aprazível e muito produtivo; encontro que seria o primeiro de muitos que viriam depois. Ainda me recordo das primeiras palavras que dirigi a Monteiro sem cerimônias, antes mesmo de cumprimentá-lo: "afinal, Elvis gravou ou não gravou feelings de Morris Albert?" E Monteiro respondeu com propriedade: "Elvis, eu não sei, mas Órion, eu sei que gravou". Monteiro se referia a um dos maiores e mais reputados imitadores de Elvis que gravou a canção, tanto que muitos fãs pensam tratar-se do próprio Elvis. A pergunta não tinha o objetivo de testá-lo, mas de satisfazer uma curiosidade pessoal sobre este mistério da discografia de Elvis. Interessante que, tempos depois, aquela dúvida seria parcialmente resolvida pelo próprio site do fã clube.
No estado da Paraíba, não existe fã, jornalista, músico ou comunicador mais versado em Elvis do que Monteiro. Entre os fãs brasileiros, Monteiro faz parte de um seleto grupo, cujo conhecimento biográfico e discográfico está muitíssimo acima da média geral. Além de fundador e mantenedor do fã-clube, Monteiro é colecionador, crítico musical, e conhecedor profundo da música popular norte-americana das décadas de 50, 60 e 70. Também realiza apresentações, interpretando o repertório de Elvis em eventos e nos encontros promovidos pelo fã-clube. A experiência e a quantidade de informações acumuladas por Monteiro já superam, e muito, o conhecimento da maioria dos fãs, incluindo aqueles mais antigos, contemporâneos de Elvis. Em seus anos de presidência, Monteiro vem mantendo contato com várias personalidades norte-americanas que conviveram diretamente com Elvis. Mais recentemente, ele conseguiu entrevistar Ginger Alden, a última namorada de Elvis, testemunha ocular dos últimos anos de vida do rei.
Além de atuar localmente, o Almost Elvis JP integra uma rede de fã-clubes espalhados pelo Brasil afora. Monteiro realiza um intercâmbio permanente de informações com outros estados, incluindo São Paulo, onde está sediado o Elvis Triunfal, considerado um dos maiores fã-clubes do Brasil, presidido por Marcelo Neves. O Almost Elvis JP foi reconhecido por Graceland, tendo sido registrado como uma das agremiações oficiais que atuam no âmbito nacional brasileiro. Esta conquista muito honra o Almost Elvis JP, sobretudo o seu presidente, cujos esforços incansáveis lograram este valoroso reconhecimento. Monteiro já é referência na cidade de João Pessoa, tendo concedido várias entrevistas à impressa local. É figura conhecida dos lojistas de discos, proprietários de bares e setores do jornalismo. Em síntese, pode-se dizer que Monteiro é um batalhador tenaz, fiel escudeiro, quando se trata de promover a obra de Elvis em João Pessoa.
Todavia, as dificuldades são muitas, principalmente os recursos limitados, tanto recursos humanos, quanto financeiros. Reunir os fãs, principalmente em eventos maiores, não é tarefa fácil. Requer planejamento, esforço e dinheiro. A disponibilidade de tempo e local, os afazeres cotidianos e a compatibilidade de horário nem sempre permitem um comparecimento massivo dos fãs. Ademais, entre os admiradores de Elvis, existem aqueles mais reservados, menos sociáveis, e que, por uma razão ou por outra, preferem manter certa privacidade.
A despeito das várias tentativas, a mídia de João Pessoa raramente oferece espaço para transmissão de programas especiais sobre Elvis. Nas emissoras de rádio, não há lugar para os grandes tributos, seja para Elvis, seja para bandas e outros artistas do mesmo gênero, o que é lamentável. É um cenário muito diferente daquele vivido até a década de 90, onde era bem mais fácil realizar especiais, com até 2 horas de duração, nas estações radiofônicas da cidade. Apesar de termos uma quantidade enorme de emissoras, principalmente na banda FM, todas elas estão sujeitas às metas publicitárias e interesses dos seus patrocinadores. No geral, a busca por audiência virou mais que uma preocupação, virou um desespero, mesmo que isto leve ao prejuízo da qualidade. Porém, os diretores de programação cometem um grande equívoco ao considerar o repertório de Elvis desinteressante e extemporâneo para realização de um especial. Em meio à ruína musical em que vivemos, tanto no âmbito nacional quanto internacional, o público encontra-se carente e ávido de um repertório com melhor qualidade. Maior prova disto é a grande audiência obtida pelos canais de televisão quando nomes clássicos da música popular aparecem em programas de auditório.
É neste contexto de espaços limitadíssimos que surge, na internet, o site Almost Elvis JP. O projeto, criação e manutenção também são o resultado do empenho pessoal de Monteiro, cujo trabalho dispõe da ajuda de alguns colaboradores para redação de matérias especiais. Trata-se da única referência especializada em Elvis na cidade de João Pessoa e em todo estado da Paraíba. Portanto, possui grande importância, não só para os fãs daqui, mas também para pessoas de outros estados que desejam interagir com os fãs paraibanos. O site tem sido utilizado para publicar notícias das mais variadas, desde o lançamento de livros, documentários, CDs e DVDs até a realização de eventos no Brasil e no mundo. Também é um canal importante para divulgar e cobrir as reuniões de fãs em João Pessoa. O site dispõe de várias seções, incluindo discografia, depoimentos, vídeos e matérias especiais, onde reflexões e aspectos interessantes da vida de Elvis são discutidos. Paralelamente ao site do fã-clube, Monteiro também possui um canal no YouTube e página no Facebook, onde pode interagir mais diretamente com os fãs.
Entre os fãs paraibanos, alguns se destacam, inclusive com projeção nacional. Um dos mais tradicionais é o cinéfilo Ivan Cineminha, assim chamado devido ao seu conhecimento profundo e minucioso do cinema nacional e internacional.
Ivan é fã de Elvis desde a década de 50. Orgulha-se em dizer que assistiu a maioria, senão todos os filmes de Elvis no cinema. Quando relembra aquele tempo, Ivan enaltece a grande popularidade dos filmes, cuja repercussão era enorme, fazendo a juventude vibrar em salas superlotadas. Ivan foi gerente de vendas no comércio fonográfico de João Pessoa, o que lhe permitiu conhecer, em tempo real, os lançamentos de Elvis e o impacto popular dos discos. Porém, ele não ficou limitado ao catálogo nacional. Ivan era um dos poucos paraibanos a possuir títulos americanos raríssimos daquela época. Os discos de vinil eram encomendados a peso de ouro através de uma loja tradicional de São Paulo, a Brenno Rossi, atualmente extinta. Ele chegou a possuir cerca de 60 álbuns importados originais, incluindo o Moody Blue em vinil azul e o belíssimo LP dourado Canadian Tribute. Segundo Ivan, Elvis vendia bastante no comércio de João Pessoa, incluindo coletâneas. A vendagem era expressiva até mesmo na década de 70, época em que a popularidade de Elvis é questionada por alguns críticos. Além de Ivan, pouquíssimos fãs da Paraíba colecionavam material importado até a década de 80. Sobre estes fãs, as informações são vagas e fragmentadas. Sabe-se apenas o nome de alguns. Mas, os detalhes são desconhecidos, pois eles nunca foram ligados ao Almost Elvis JP.
Antigamente, João Pessoa dispunha de um agradável restaurante sugestivamente intitulado de "bar do Elvis". Este estabelecimento, situado no bairro Castelo Branco, é muito frequentado por jovens estudantes, pois fica próximo a nossa universidade federal. Muitas vezes, o bar do Elvis era utilizado como ponto de encontro para confraternização e eventos do Almost Elvis JP. O proprietário, Edmundo Ferreira, também atuava como imitador, tendo realizado alguns shows para os fãs e público geral
sendo o primeiro "cover" conhecido da Paraíba e um dos primeiros no
Brasil.
Entretanto, dentre os imitadores paraibanos, Antônio Gomes, ou Tony Presley, é um dos mais profissionais e bem preparados, possuindo uma banda própria que o acompanha durante as apresentações.
Tony é engenheiro mecânico, colecionador e um dos maiores fãs da cidade de Campina Grande. Também é um dos poucos paraibanos privilegiados a conhecer Graceland e outros locais ligados ao rei na cidade de Memphis. As performances de Tony se destacam pelos macacões finamente confeccionados, alguns feitos por encomenda em ateliê americano especializado em Elvis.
O núcleo do Almost Elvis JP é formado por um grupo de membros mais assíduos; membros cujos nomes não serão citados, sob pena de algum ser injustamente esquecido. Eles participam dos encontros com mais frequência, fazem sugestões e mantêm uma comunicação mais permanente. Mas, em torno deste núcleo, orbita um incontável número de fãs e simpatizantes que prestigiam o fã-clube, principalmente através do site Almost Elvis JP. O alcance do fã-clube pode ser medido através do site, onde aparece, no livro de visitas, notas elogiosa Monteiro e o Almost Elvis JP pelo brilhante trabalho realizado. Ao mesmo tempo, convidar fãs e admiradores a participarem do fã-clube, seja presencialmente, seja por meio da internet. O fã clube mantén ativo um site,um grupo privadono Facebook e outro no Whats App.Faço votos de que o fã-clube e o seu competente presidente continuem neste valoroso trabalho de congregar os fãs, promovendo a obra de Elvis na cidade de João Pessoa e no Brasil. Viva Elvis!
Elvis Monteiro presidente do fã clube Almost Elvis JP./Solidonio.
Colaborador do Almost Elvis JP
04/07/2018.